sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Pensante.Vibrante.Inconstante.

Como explicar a súbita vontade de chorar num dia ensolarado como esse? Como entender o vazio no peito e a dor que se sente apesar do aconchego materno e do beijo apaixonado que se recebe? É como uma onda de angústia e desespero que aparece, me consome por minutos que parecem horas ou horas que parecem uma eternidade. Não tenho a intenção de promover reflexões e muito menos de causar um reboliço no cérebro de ninguém. Se pergunto é porque honestamente não sei. Tento concentrar-me nos momentos de alegria, mesmo quando esses se apresentam cada vez mais escassos em meus pensamentos. Os mesmos que se recusam a me mostrar cenas de paz.

“Tá” muito pesado pra você, né? Mas, calma! Uma hora tudo isso passa. O vazio vai sumindo, o desespero se torna quase calmaria. A tensão desaparece. Tomo meu café como se nada daquilo um dia houvesse acontecido e escovo os cabelos com a tranquilidade e preguiça de quem acabou de acordar. Mal se percebe as marcas, as feridas do dia anterior. Talvez se olhasse bem perto dos olhos e concentrasse no inchaço em volta deles. Mas até isso é camuflado pela maquiagem tão usada em dias como esses.

Tamanha é a inconstância dos meus sentimentos, que chego a pensar que não há palavra melhor pra mim. A Mandala que me define são olhos chorosos acompanhados de gargalhas inscritos em um círculo de formas geométricas. Tão lindo por fora, tão complexo por dentro. Fico me perguntando se todo essa loucura interna tem alguma explicação concreta e, por isso, o início desse desabafo. Mas não. São só as minhas paranoias castigando o meu corpo. Eu lutando contra mim mesma. 


segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Não basta estar na constituição


Por Joana Borges

Em resposta aos vinte e cinco anos da atual Constituição Federal brasileira, a reflexão quanto ao mais importante acervo de leis, direitos e deveres do país se torna ainda mais fundamental. Levando em consideração que é com base nesse documento que todo o sistema nacional é organizado, nada mais digno seria do que pensar a constituição de forma a resgatar seus códigos e, assim, analisar o resultado obtido diante do poder que é atribuído a ela.

Sendo os objetos de análise os artigos 5º e 6º da Constituição de 1988, elogiáveis são as definições que os acompanham e, ainda, os itens que a partir do parágrafo inicial se subdividem afim de tornar clara a legislação. De fato, os direitos e deveres do cidadão brasileiro foram muito bem desenvolvidos no desenrolar de ambos os artigos e, sobretudo aos olhos de um leigo, eles parecem perfeitos. É colocado na “ponta do lápis” tudo a que um cidadão brasileiro tem direito: liberdade, igualdade, propriedade... Tão bem escritos o foram que quase dá para acreditar, se não fosse pela realidade que não nos deixa mentir.

Afinal, como ser livre em um país em que o medo de ser assaltado, violentado, morto é parte substancial do dia-a-dia do brasileiro? Liberdade não pode ser encarada como livre arbítrio simplesmente. E mesmo que fosse, quantas milhares de vezes o direito de escolha de alguém é violado todos os dias no Brasil? Os casos de violência por razões homofóbicas são um exemplo claro da intolerância às relações homoafetivas no Brasil e, portanto, à liberdade de alguém escolher como parceiro(a) uma pessoa do mesmo sexo. Desse modo, de nada vale estar escrito na constituição que temos o direito à liberdade se, na prática, esse direito não nos é garantido em todo o seu significado, dimensão.

A questão homoafetiva também pode ser analisada de forma a contradizer a noção de igualdade entre os cidadãos brasileiros. Considerando que só em maio deste ano foi permitida a união legal de pessoas do mesmo sexo de forma estendida a todos os estados da federação, como dizer que todos os brasileiros são iguais? Se de fato fossem iguais no quesito direitos e deveres, por que então uns têm direito de se casar e outros não? Em um país que se considera laico e que possui em sua constituição a igualdade como uma referência, o direito ao casamento civil entre pessoas do mesmo sexo há muito deveria ter sido legalizado.

Ainda analisando o fator da igualdade no Brasil, mas já fazendo uso de elementos do artigo sexto da constituição, é importante pensar nas disparidades que cercam os gêneros, feminino e masculino, e que põem em risco a tese da igualdade entre os cidadãos brasileiros. Essas diferenciações são mais perceptíveis quando o objeto em estudo é o próprio salário de homens e mulheres que, mesmo realizando tarefas semelhantes, são sujeitos a receber salários diferentes. Dados como os da PNAD 2012 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) provam que as mulheres brasileiras recebem em média 27,1% menos do que os homens, contrariando o entendimento de igualdade de gêneros no Brasil e a proibição de diferença de salários por motivo ligado ao sexo exposto no artigo 6º, parágrafo XXX da constituição.

Nesse caso, especificamente, é notória a influência de valores culturais sobre a questão salarial entre gêneros. O papel social que a mulher brasileira representou durante toda sua existência, ou seja, de dona da casa, esposa e mãe, ainda não se desvinculou da mulher do século vinte e um que, mesmo inserida no mercado de trabalho e, muitas vezes, desempenhando função análoga a de homens dentro de uma mesma empresa, ainda é sujeita a um salário inferior.

Nesse sentido, é necessário que o governo crie políticas de fiscalização das empresas e, ainda, desenvolva métodos de punição àquelas que não puderem justificar a distinção de salários entre seus funcionários que não por motivo de gênero, cor, idade ou estado civil. Ademais, o governo é, juntamente com a sociedade, responsável por, mesmo que gradativamente, eliminar as mazelas históricas que afastam homens e mulheres, brancos e negros; e que são responsáveis por muitas das injustiças que cercam os brasileiros.

 A constituição brasileira é clara e, pelo menos superficialmente analisada, bastante completa. O foco do problema que envolve o direitos e deveres sociais não está na forma como os artigos 5º e 6º foram redigidos, mas no descumprimento das leis; de forma que estar na constituição simplesmente não é garantia, sobretudo de direitos, para a maioria dos cidadãos brasileiros. É preciso muito mais que legisladores; é preciso um poder judiciário eficiente e instituições que tenham condição de cumprir o seu dever, seja esse de salvar vidas ou mesmo de formar cidadãos menos preconceituosos e mais honestos.





quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Cansei de ser perdida...

...porque é péssimo se sentir deslocada o tempo inteiro; porque a vida agora está longe de ser aquela que eu sonhei; porque todos os dias eu penso em fugir daqui e reclamo tanto de tudo que até eu mesma não me aguento mais; porque eu me sinto outra pessoa, alguém que luta para pertencer à um lugar, uma sociedade que, simplesmente, não me pertence e parece estar cada vez mais distante disso. E, finalmente, porque, esse tempo todo, a minha noção de felicidade esteve sempre atrelada ao dia de amanhã. Mas não. Não é isso que eu quero. Eu não quero esperar até amanhã chegar. É tão errado assim querer ser feliz hoje? 

Algumas pessoas sonham em ser atriz, jornalista, astronauta. Eu não. O meu sonho é me sentir feliz e satisfeita comigo mesma e com as pessoas que me rodeiam. Quero sentir meus olhos brilharem ao falar da minha faculdade, da minha profissão. Quero me orgulhar de ser a protagonista da minha própria rotina. Romântica demais? Que seja! Pelo que eu saiba, ninguém nunca foi preso por causa disso. Enfim, a questão é que, fora isso, eu não sei de mais nada. Não tenho a menor ideia sobre o que eu quero. E se eu penso que quero, logo descubro que não tenho certeza. Sempre foi assim. Sempre. Desde garotinha.

Eu sou do tipo que na fila do fast food pensa em toda as opções e acaba comprando o mesmo hamburguer que o do amigo porque não conseguiu se decidir a tempo; do tipo que na sorveteria pega um pouco de cada sabor para, só depois de ter provado todos, sentir no peito um fio de coragem (sim, é desse jeito) de escolher apenas um sabor da próxima vez. Eu sou assim e nem adianta pressionar. Porém, desta vz, eu não posso mais continuar com esta incerteza que me perturba o tempo todo com perguntas do tipo: "será que é isso que você quer? É nessa faculdade que você quer passar os próximos 4 anos da sua vida?". E a resposta é o meu mais sincero "não sei". E é exatamente por isso que eu preciso ter parâmetro, opções, cursar outra faculdade e viver de outra forma. E só depois, só assim, decidir o que eu quero para mim.

Compartilho da ideia de que devemos agarrar as oportunidades que aparecem em nossas vidas. Nem sempre é fácil e nem sempre é a melhor opção. Mas como saber? Como em um jogo de tiro ao alvo, primeiro eu vou precisar enfrentar a fila, comprar as fichas para, só depois, torcer pra acertar o ponto certo, o ponto que vai me fazer levar o prêmio para casa e estampar-me um sorriso no rosto satisfeito antes de cair no sono. Como na sorveteria self-service, eu vou aproveitar a chance e experimentar um pouco de cada sabor...só porque eu sou jovem, de idade e de espírito. Só porque eu quero.

Por Joana Borges

  

sábado, 24 de agosto de 2013

Para aquela amiga minha

   Todo mundo tem uma amiga que insiste em dizer: "homem não presta". E com essa generalização infeliz, ela tenta convencer as outras de que ele fez isso ou aquilo, pegou fulaninha ou até mesmo traiu, porque "homem é assim mesmo". Como se fosse da natureza dos homens ser cafajeste. NÃO! Não, amiga. Não é assim que funciona. Assim como você, os homens pensam antes de tomar atitudes; não culpe a testosterona por tudo que o carinha fez ou deixou de fazer. E, falem o que for, nem mesmo o álcool é desculpa para as atitudes dele.
   Quem diria EU escrevendo um texto como esse..mas existem coisas que realmente me tiram do sério quando o assunto na "rodinha" feminina é homem. Algumas mulheres precisam encarar o fato de que "ele" não quer nada sério. É difícil, pode acreditar, eu sei. Toda garota já passou por isso. A gente não quer acreditar no que está na nossa frente. E então, colocamos palavras na boca "dele", imaginamos olhares; criamos justificativas para os seus atos. É o nosso jeito de alimentar a esperança; de fortalecer as boas lembranças; de nos manter apaixonadas. Porque não há nada melhor do que estar apaixonada.

   Só que estar apaixonada sozinha não tem nada de bom. Pare de querer inventar uma reciprocidade que não existe. Aceite que ele não está tão na sua quanto você pensa. Se "ele" age como um idiota, pare de perder tempo e comece a tratá-lo como o idiota que ele é. Ponto final. (desabafo sempausanemprarespirar)
   Para concluir a minha revolta, quero deixar bem claro que não sou uma especialista. Não estou querendo me meter na sua vida amorosa e, muito menos, "cortar o seu barato". Mas, meninas, por favor, vamos parar de achar que todos os homens são iguais. Isso só nos faz ser mais tolerantes às babaquices de alguns caras.
    Por último, vamos parar de dizer que "homem não presta", "homem é tudo igual" e variações. Repetir isso não vai fazer com que precisemos menos dos homens e, muito menos, nos tornar mais fortes ou interessantes. Ao invés disso, coloquemos em nossa cabeça que merecemos caras legais; que nos tratem bem e que despertam o que há de melhor na gente.
   Algumas garotas têm a capacidade de amar o mundo inteiro. Amemos a nós mesmas primeiro.



   
   
Joana Borges (Perdidos)





quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Coisas que só São Paulo faz por mim

É inquestionável o fato de que São Paulo tenha mudado a minha vida. Eu sei que mudou, eu vejo e, sobretudo, eu sinto na pele as mudanças que a Pauliceia faz em mim.
Seis meses vivendo a loucura que é São Paulo, posso dizer, sem hesitar, que sou louca como ela é. Carrego no corpo emoções inexplicáveis, que se colocam umas sobre as outras como se disputassem um lugar em mim. E a minha mente, sem força para lutar, as deixa entrar; como alguém que recebe uma visita na hora do cansado, no momento mais inoportuno do dia. Mas, por educação ou fraqueza, abre a porta e lhe oferece um café, um pedaço de bolo.
Por mais que não sejam bem-vindas, eu alimento essas emoções. Apesar de fazerem sofrer, eu não consigo expulsá-las, e ainda as fortaleço com meus pensamentos. Por que então eu continuo fazendo isso? Promovendo essa luta de emoções dentro de mim? Por que, simplesmente, não parar de alimentá-las e as deixar morrer? Mas eu não consigo.
Não tenho dúvidas de que a vida seria muito mais tranquila e feliz se eu não pensasse tanto no que fazer dela; se eu não me preocupasse tanto em ser feliz. Mas como no medievo, que as pessoas viviam para uma vida após a morte, eu vivo pelo amanhã.
Entristece-me admitir, mas eu sei que é verdade. Afinal, por que eu estou há seis meses morando em São Paulo, apesar de estar sempre desejando a volta pra casa?
Sei que é o melhor para minha profissão. Sei que no futuro colherei os frutos dessa experiência. 
E então, agarro-me em cada oportunidade; e espero o futuro chegar.
Enquanto isso, vou me envolvendo em coisas que distraem a cabeça, aquietam meus pensamentos, acalmam a alma. Vou regularmente à academia, converso, brinco, cuido do corpo; Aos sábados, faço teatro e, por duas horas, finjo ser alguém que está longe de ser eu mesma. Entro na personagem e, finalmente, esqueço de mim. À noite, saio. Vejo um filme, danço, vejo gente. E na balada, me acho linda de batom vermelho.
São Paulo é a minha loucura e a minha ambição. Aqui sou tudo e nada ao mesmo tempo. A ela atribuo minha inspiração, meu desespero. A ela dedico toda a minha alta e baixa autoestima; e nela despejo a culpa pela minha insônia e o meu cansaço.
Para mim, a pauliceia é mais que uma cidade. É um sistema, um organismo vivo. Pulsante, pensante, faminto. São Paulo se alimenta do meu suor, do seu suor. Quando fraquejamos, ela vem no dar um tapa na cara; e quando vencemos, ela se alimenta da recompensa.
É chegada a hora. A mente já cansada chama pelo sono, que não vem. Ao invés dele, invadem-me os pensamentos, as emoções, a saudade, a tristeza, o medo, a solidão. "Desculpe, outro dia você vem me visitar, preciso dormir agora. Espero que tenha gostado do bolo." E, mais uma vez, volto pra cama.




Por Joana Borges (Perdidos)

domingo, 4 de agosto de 2013

Uma vida numa caixa de sapatos

Chego no apartamento completamente vazio; branco; sem vida. Aos poucos desarrumo as malas; com a empolgação de quem espera melhorias; com o desânimo de quem já sente o coração apertar. Toda vez é aquela sensação que luta para preencher o espaço que os amigos, a família, o namorado deixou. Essa que diz que boas novas virão e que não há nada para se preocupar. A mesma que te abraça e te manda ser forte.

É nesse turbilhão de emoções que, rapidamente, vou enchendo o minúsculo armário duas  portas que eu chama de guarda-roupas. Tudo que é meu está lá dentro. Quem me dera se Aline, o Rodrigo, também coubessem lá. Este, em nada se assemelha com o guarda-roupas da casa dos pais; grande, cheio de espelhos.Mas que eu só vejo uma vez por mês. O daqui é mais como uma caixa de sapatos que, com cuidado eu vou criando espaços e juntando corpos em um mesmo cm³; por mais absurdo que isso possa parecer para as leis da física.

Depois de mais de um mês fora de São Paulo, voltar não é "lá" a coisa mais fácil do mundo. Mas não me queixo. Com "Armário Caixa de Sapato" e tudo; se a vida não fosse assim, não seria a minha. E se não é minha, não serve.

Joana Borges (Perdidos)

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Viver em São Paulo é... Movimento! A cidade onde o tédio não existe




Muitas vezes chamada de “a cidade que não para nunca” ou “a cidade que nunca dorme”, São Paulo é uma típica aglomeração urbana da modernidade. Um polo de cultura e serviços, que reúne em suas esquinas um pedacinho de cada país do mundo. A modernidade se expressa tão bem aqui como em alguns poucos lugares do mundo. Como esperar encontrar sossego em uma cidade onde a frota de helicópteros urbanos é a maior do mundo e a de veículos cresce oito vezes mais que a população? Estamos perto da marca de 7 milhões de veículos, sendo que, destes, 3,8 milhões circulam diariamente em pelos mais de 17.000 quilômetros das vias da capital.
Nas calçadas, a agitação não fica atrás. Pedestres apressados transitam todos os dias, sem parar para perceber o ambiente a sua volta. Com o simples intuito de chegarem ao trabalho, ou, à noite, chegarem a suas casas e se prepararem para mais agitação no dia seguinte.
Porém, em contradição, a circulação na cidade para por muitas vezes. Horas e horas de transito intermináveis fazem a fama de São Paulo. Na cidade onde se leva duas ou três horas para chegar em casa no horário de pico, circulando por suas próprias ruas e avenidas (o tempo, muitas vezes, de uma viagem para outra cidade), o transito, além de marca registrada, é um dos seus maiores problemas: causa mortes (entre atropelamentos e acidentes), polui o meio ambiente (de acordo com a Cetesb, os veículos despejam todo ano 1,7 milhão de toneladas de substâncias nocivas na atmosfera e são a principal fonte de poluição do nosso ar) e rouba dos cidadãos um tempo precioso, que jamais será recuperado, afinal os paulistanos perdem, em média, 2h42 por dia nas imensas filas, segundo pesquisa do Ibope encomendada pelo movimento Nossa São Paulo, em 2010.
Enquanto alguns sofrem em seus carros particulares, outros se espremem no metrô e nos ônibus, que não garantem mais agilidade na locomoção. O passageiro do ônibus demora, em média, 2 horas a mais por semana em seu deslocamento que o usuário do automóvel. De acordo com pesquisa do Ibope, as pessoas que utilizam transporte coletivo demoram em média 57 minutos para ir trabalhar, contra 47 minutos dos motorizados.
A sensação em São Paulo não poderia ser outra: movimentação eterna. Aqui nada tem fim, inúmeros lugares permanecem abertos constantemente. A noite, às vezes parece mais animada do que o dia. A superpopulação assusta, mas também alegra aqueles que gostam da agitação, da correria. Para conseguir viver bem em São Paulo não tem outro jeito: é preciso gostar de estar ligado na tomada 24 horas por dia.

(Daniela Rial - Perdidos)